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Funny Girl: um espetáculo de excelência e de extrema beleza

Olhar Teatral, Por Paty Lopes, Crítica Teatral

Em 07/11/2023 às 11:27:11

A excelência da obra, por si, já desmonta qualquer apontamento que não seja o reconhecimento de extrema beleza em TODOS os sentidos. Há tanto deslumbre na montagem que simplesmente questionamos enquanto assistimos: eu estou vendo isso?

Quem foi Fanny Brice?

Fania Borach, uma das garotas Ziegfeld, de origem judaica, nasceu em 1891 e, desde criança, já cantava, dançava e tocava piano no salão de seu pai.

Seu negócio não era ser uma mulher atraente nos palcos, pois gostava de fazer a plateia rir com seus espetáculos, por isso tornou-se uma das melhores comediantes da Broadway.

Atuou ao lado de Judy Garland, um das grandes artistas do seu tempo.

Sua vida foi parar no cinema através do filme Funny Girl, de 1968, com Barbra Streisand a interpretando. A cantora e atriz ganhou um Oscar pelo seu desempenho nesse musical (aquele prêmio “dividido” com Katherine Hepburn).

Recentemente, o musical ganhou uma nova versão americana, que acaba de virar um recorde de bilheteria na Broadway.

Agora, vamos ao espetáculo que está de passagem no Rio de Janeiro.

Vamos falar da estrela maior desse espetáculo. A atriz escolhida para viver o papel da protagonista Fanny Brice, na versão brasileira, é a jovem Giulia Nadruz, que, com apenas 31 anos, tem em seu currículo musicais como ‘West Side Story”, “O Fantasma da Ópera”, “Barnum-o Rei do Show”, “Tick Tick Boom!”, “Ghost” e “Shrek” entre outros.

Quem vai ao teatro na expectativa de ver uma atriz que desenha a Barbra Streisand perde tempo, porque Giulia tem um jeito próprio de interpretar. Ela carrega tanta brasilidade e tantas façanhas que comparar ela a qualquer outra atriz seria uma maldade. Giulia tem peculiaridades, uma voz que transcende o teatro, uma sensação do céu estar abrindo para sua canção chegar a algum santuário. É celestial! Giulia interpreta com assertividade, do jeito dela, utilizando seu corpo e trazendo comicidade no tom certo.

Penso que escrever sobre a atriz já é uma prática habitual dos críticos de São Paulo. A atriz está nos maiores musicais, também não poderia ser diferente. Ela é uma jóia do nosso teatro. Não deve a nenhuma outra atriz das artes cênicas.

Sempre ouvi que grandes perfumes se escondiam em pequenos frascos. Hoje entendo esse ditado popular. Embora a atriz tenha uma estatura pequena, ela é imensa. Mesmo quando brinca é bela, mesmo quando se faz parecer uma menina tola em seu papel, ela nos engole. Talvez uma das melhores interpretações que já vi. Meus olhos a perseguiam, porque assistir a atriz é prazeroso, todo lisonjeiro é pouco.

Já o seu par na trama, o jogador Nicky Arnstein, é vivido por Eriberto Leão, que encara pela primeira vez um musical da Broadway. Os dois foram escolhidos em um longo processo de audições bem concorrido, que durou duas semanas e contou com mais de 500 candidatos.

Assisti a Eriberto em "O Astronauto". Ele é um artista do teatro. E esse personagem caiu bem, como uma luva. O artista ressuscitou seu estilo galã, sem piedade. Fala sério! É uma delícia assistir Eriberto com um corpo elegante, com movimentos característicos dos galãs da época. Incrível! Haja pesquisa! Seu tom de voz e expressões faciais não estão exagerados, tudo é muito bem dirigido. Nada implica. Interessante é que não temos um artista jovem. Eriberto já está maduro, tanto na vida quanto no ofício, mas isso alimentou positivamente seu personagem. O figurino cooperou muito com o par protagonista. Eriberto entra no espetáculo muitíssimo bem, assim como sai. Não há arranhões.

Andre Luiz Odin, como não registrar essa presença no palco? O artista apresenta um personagem que se interessa pela protagonista e, depois, torna-se um amigo. Que personagem lindo! E que artista mais gostoso de assistir! Ele canta lindamente e sapateia ainda mais. Ele traz ao espetáculo uma meiguice antológica, tem presença de palco, atenua um personagem coadjuvante como poucos. Simplesmente digno de reconhecimento.

Existem as três Marias do espetáculo, que é formado por Stella Miranda (potente além da conta), Nadia Villela e Alessandra Vertamati. As três são ostentosas em seus cantos de uirapuru. Também com seus corpos e expressões faciais fazem toda diferença, são abençoadas com a comicidade. Terríveis! O espetáculo não seria o mesmo sem elas, estejam certos disso! Há muita técnica e domínio cênico entre elas!

As picardias do artista Marcelo Góes, que é o diretor do primeiro espaço onde a senhorita Brice se apresentou, também são bem vindas!

A direção de movimento do Alonso Barros é tremenda. As coreografias, e movimentos dos artistas no palco, tudo coopera. A beleza do sapateado, que nos remete ao passado do filme, é formidável, assertivo. As colocações dos artistas no palco também. Tudo muito cheio de charme e, posso dizer, majestade. As pernas da protagonista, quando se desmancham ao beijar seu galã, são de uma supremacia encantadora.

Viva Alonso!

Natalia Lana, a cenógrafa. Natália já não cabe dentro do Brasil. Esse país, bem sabemos, não valoriza seus artistas e, principalmente, os profissionais do teatro. Mas Lana é como uma ave, daquela que voa mais alto. Se não me engano, é o grifo africano. A profissional encanta com suas obras de arte. Cada feito da Lana apenas a consagra, a coloca em um patamar cada vez mais alto. O cenário de Funny é um espetáculo à parte, de cortinas e móveis a paredes. Tudo bem feito, com um padrão invejável. Penso que Lana é uma referência no que se diz de cenário hoje no Brasil!

E, junto, a iluminação de Maneco Quinderé. A obra abre os nossos olhos ao que realmente é bom. A iluminação grita, são movies que trazem vida, cores assertivas, rajadas de luz que chegam do alto do teatro, do lado esquerdo e direito, iluminação precisa como faróis que abrem caminhos: os das artes cênicas, que é viva. A iluminação que vem do palco, embutida no cenário, também arde em minha memória. Um belíssimo trabalho!

Carlos Bauzys é o diretor musical, que alcança os louros com músicos e coros belíssimos! Ele entende de Broadway. Se não passou por lá ainda, ao menos entendo que, na vida passada, deve ter sido um profissional de lá.

Os figurinos são estupendos. Quem assistiu ao filme entendeu que a figurinista não poupou detalhes. Cores lindas. Na cena da grávida no casamento, é possível ver uma cópia perfeita. Os coadjuvantes, os artistas do coro, todos com indumentárias representativas da época aspiravam glamour. Até mesmo nas cenas no bairro da senhorita Brice, os figurinos foram desenhados com sapiência. É incrível a beleza que soa: um verdadeiro desaguar de estilos referentes ao filme.

Gustavo Barchilon é o diretor artístico, aquele profissional que senta na cadeira e levanta mil vezes, discute, perde a paciência, e volta no mesmo ponto. Reinventa, muda tudo, de repente se arrepende. O diretor é aquele que não dorme e, no meio da noite, tem uma ideia e a leva para os artistas no dia seguinte; é aquele que ouve os artistas e, junto a eles, constrói uma obra. Um diretor artístico determina absolutamente tudo, é o dono da bola, orquestra todo o feito.

Quando reconhecemos uma obra, quando ela chega ao reconhecimento do público, isso deve-se ao trabalho de um diretor e artistas. É o diretor que enxerga até mesmo um vácuo no palco, que sabe inclusive como preenchê-lo de maneira eficiente, não nos deixando a sensação de um espaço vazio. A obra "Funny Girl" é suntuosa e, em nenhum momento, perde a sutileza e a elegância, mesmo com tantos artistas no palco.

A suavidade da obra é tremenda, mesmo diante de um espetáculo que pressupõe tantas cenas diferentes.

Comparo esta peça teatral ao "Bolero de Ravel". Mesmo com tantos instrumentos diferentes, não perde a harmonia e resulta em uma obra de ampla magnitude.

"Funny Girl" é um espetáculo que nos orgulha de sermos brasileiros, uma obra prima nada fatídica embora exale uma candura expressiva!

Sinopse

“Funny Girl - A Garota Genial" conta a história de Fanny Brice, uma jovem judia tratada como patinho feio pelos demais. Sonhando com o estrelato e a fama, ela rouba a cena num show local e é contratada por um famoso produtor que resolve investir em sua carreira. Já reconhecida por seu talento nos palcos, Fanny se apaixona pelo jogador compulsivo Nicky. Logo se casam, mas enquanto a carreira da atriz e cantora prospera, o relacionamento dos dois se deteriora.

Ficha Técnica

Direção Artística: Gustavo Barchilon

Direção Produção: Thiago Hofman

Produtora Associada: Cecilia Simoes

Versão Brasileira: Bianca Tadini e Luciano Andrey Coreografia / Direção de Movimento: Alonso Barros

Direção Musical: Carlos Bauzys

Figurino: Fábio Namatame

Cenário: Natália Lana

Design de Peruca / Maquiagem: Feliciano San Roman

Design de Som: Tocko Michelazzo

Design de Som Associado: Gabriel Bocutti Desenho de Luz: Maneco Quinderé

Direção de Arte: Gus Perrella

Serviço

Data: 28/10 a 19/11/2023

Local: Teatro Casa Grande

Endereço: Avenida Afrânio de Melo Franco, 290 – Loja A- Leblon – Rio de Janeiro/RJ

Horário: Sextas às 20:30, Sábados às 17h e 20:30 e Domingos às 18:30

Abertura da casa: 30 minutos antes do evento

Classificação etária: 12 anos. Menores a partir de 10 anos entram acompanhados dos pais ou responsáveis. Crianças até 1 ano e 11 meses possuem gratuidade permanecendo no colo do responsável.

Abertura da casa: 1 hora antes

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